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Rede Solidária de Mulheres lança nova fase do projeto com a Petrobras

“A gente luta e resiste para poder continuar existindo”, afirmou a catadora de mangaba Alicia Morais, na abertura do Webinar “Cartografia das Emoções”, que aconteceu na última quinta-feira, dia 21, em evento que marcou o lançamento da nova fase do projeto Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, realizado pela Associação das Catadoras de Mangaba de Indiaroba (Ascamai) em convênio com a Petrobras.

O webinar mapeou o estado emocional das mulheres que fazem parte da Rede, no contexto pandêmico da Covid-19 e contou com a participação de Mirsa Barreto, coordenadora do projeto Rede Solidária de Mulheres; Alicia Morais, catadora de mangaba e presidente da Ascamai; Valdiene Vieira, bacamarteira e representante das mulheres de Aguada, em Carmópolis; Valdilene Oliveira Martins, presidente da Comissão Especial de Direitos Humanos do Instituto Ressurgir e ex-presidente da Comissão de Direito da Mulher da OAB/SE e Rita Simone, doutora em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Entendendo que o suporte dado pelo projeto às associações de mulheres de Sergipe vai além da qualificação profissional para geração de renda, a Rede busca também um diálogo sobre a emancipação, valorização do trabalho dessas mulheres e o seu fortalecimento como agentes comunitárias. Por isso, a proposta do evento foi evidenciar as experiências das mulheres que produzem sua fonte de renda através dos recursos da natureza e do artesanato, mas que precisaram se adequar aos desafios impostos pela pandemia da Covid-19, passando também pelo processo de recuperação da doença, pela dor de perdas de familiares e amigos, e do isolamento social.

O webinar foi iniciado com uma apresentação do projeto, que já vem sendo construído desde 2018 e que a cada nova fase integra outras associações e territórios em sua trajetória. Mirsa Barreto reforçou a importância de se trabalhar com mulheres e para mulheres “na contribuição das ações de sustentatibilidade das comunidades extrativistas e urbanas, ampliando as condições de geração de renda, qualificando e inovando o trabalho e ressiginificando as relações com o meio ambiente dos grupos comunitários”.

Alicia Moraes apontou que a luta pelo território também é uma tarefa a ser feita pelas mulheres, reafirmando sua ancestralidade como mulher negra, quilombola e extrativista. “Nós não queremos ser donas das terras, só queremos o direito de continuar vivendo nelas, continuar ocupando um espaço que vem sendo ocupado desde os nossos antepassados. A gente luta e resiste para poder continuar existindo”, disse Alicia.

As mulheres na pandemia

Quando localizado o debate sobre a vida das mulheres durante a pandemia, foi colocado em prática o conceito de solidariedade que a Rede apresenta paras as mulheres. Para Valdiene Vieira, “a rede é muito importante, principalmente nesse momento porque a pandemia acabou com o sonho de muita gente. Pessoas perderam o emprego, ficaram deprimidas, sem saber o que fazer, sem saber o que dar aos seus filhos. E nós, como rede, apoiamos essas mulheres. A ajuda não é só financeira, mas também em forma de acalento”, disse a pescadora e bacamarteira do município de Carmópolis.

Além disso, a advogada e presidente do Instituto Ressurgir, Valdilene Oliveira, apontou que o confinamento agravou as situações de violências contra a mulher e enfatizou a importância desse debate ser feito dentro das associações e comunidades que o Projeto Rede Solidária de Mulheres está inserido. “É preciso trazer as mulheres para perto, fazer com que se percebam como sujeitas ativas. Nós não somos passivas”, afirmou a ex-presidente da Comissão de Direito da Mulher da OAB/SE que completou fazendo uma chamado para que as mulheres se encorajem individualmente para que se empoderem coletivamente.

O webinar contou também com o relato de experiências de Mirsa Barreto e Silvana Correia, que contraíram a Covid-19 e enfrentaram momentos difíceis. Silvana contou que ainda sente as sequelas deixadas pela doença. “Tenho muita queda de cabelo, praticamente perdi todo o meu cabelo, me sinto muito fraca e em alguns momentos estou bem e logo depois fico estressada, mas aos poucos estou me recuperando”. Mirsa, que precisou ser intubada e teve o pulmão comprometido, relatou que durante o processo de internação reparou nas outras pessoas que passavam pelo mesmo problema que ela. “O mar da pandemia é revolto, mas nós não estamos em barcos iguais. As diferenças e as desigualdades que existem entre as pessoas é o que nos matam. Esse processo fez com que o sentimento de solidariedade se fortalecesse em mim”.

A cartografia das emoções foi concluída em forma de ilustrações feitas por Monica Santana, facilitadora gráfica e educomunicadora, e estará disponível nas redes sociais da Rede Solidária de Mulheres e em outros projetos durante os dois anos do projeto.

Próximos passos

Após o lançamento da nova fase do projeto, a Rede Solidária de Mulheres segue com as ações propostas para cerca de 400 mulheres de sete municípios sergipanos. São mulheres dos povoados Pontal, em Indiaroba; Ribuleirinha e Manoel Dias, em Estância; Capuã, na Barra dos Coqueiros; Baixa Grande, em Pirambu; Porteiras, em Japaratuba; Santa Bárbara, Aguada e assentamentos São José e Palmeira, em Carmópolis; além da mais nova área incluída nas atividades do Projeto, Divina Pastora, através das mulheres rendeiras da Casa do Artesão e da Associação para o Desenvolvimento da Renda de Divina Pastora (ASDEREN).

A Rede Solidária de Mulheres de Sergipe se propõe a realizar ações que envolvem a qualificação profissional dos processos e produtos desenvolvidos artesanalmente, com a construção de duas Unidades de Beneficiamento dos Frutos; novas linhas de produtos; expansão da comercialização com a criação do site de vendas online, o E-commerce; além de formações, através de oficinas, webnários, workshop, seminários organizativos, educativos e ações de conscientização e combate à desigualdade racial e de gênero, e à violência contra as mulheres. Importante destacar que todos os processos do Projeto estão alinhados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável referente à Educação e Igualdade de Gênero e as demandas da Agenda 21 de Carmópolis, das comunidades tradicionais das Catadoras de Mangaba de Sergipe e das Rendeiras de Divina Pastora. Aplicando de forma prática as diretrizes capazes de desenvolver e emancipar mulheres através do seu trabalho.